Leio n’O Globo que Fernando Sabino completaria 100 anos neste mês de outubro de 2023. Mais precisamente, seu aniversário seria exatamente hoje, dia 12 de outubro, que também é o dia das crianças, talvez não por acaso. Conheci sua obra ainda menino e não larguei mais. Li tudo que pude dele e, lembro-me, queria ser escritor como ele, que, consta, decidiu pela profissão aos 10 anos de idade.
Alguns livros seus, como o Encontro Marcado e o Grande Mentecapto, lembro-me de ter simplesmente adorado. Logo que o descobri, acho que por alguma indicação do colégio e depois entre os livros de meu pai, fui lendo tudo, um livro atrás do outro. E, sem dúvida, tentei imitar seu estilo nos meus próprios escritos –mesmo aqueles sem qualquer pretenção literária.
Sabino era da turma dos irmãos Caruso, Millôr, Técio e pude encontrá-lo uma vez neste grupo. Já não lembro bem o que era, talvez um encontro político. Foi no antigo Jazzmania e Sabino tocou bateria. Era uma bateria energética, que adorei. Procurei, mas não tem ele tocando no YouTube.1 Melhor, ficou só na memória.
Fácil de ler, difícil de escrever, vejo-o em entrevista resumindo seu ofício. Talvez como já disse Drummond, a arte de cortar as palavras. Ou como o piano de Tom Jobim, sem nenhuma nota a mais.
Achei graça ver que ele já dizia que “Tudo conspira contra escrever”, antes mesmo da Internet, das redes sociais e do celular. “Escrever é a arte de sentar a bunda na cadeira”, “vencer a distância que separa você da máquina de escrever é o mais difícil”. Imagino o que ele não diria hoje.
Decido ir até a estante, abro alguns de seus livros. Vejo dedicatórias como “Desculpe pelo atraso no presente, mas valeu a pena esperar por mais um livro do Fernando Sabino”. Livros lidos, usados, com dedicatórias. Pego um deles, do qual não me lembro especialmente, Deixa o Alfredo falar! Um livro de crônicas. Leve, inteligente, cheio de tiradas. Lá pelo meio, uma citação a Drummond, “Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear” e uma crônica impagável, O Ricochete Telefônico. Do tempo do telefone fixo, de quando não se conseguia linha para discar. Lembro-me que saiam crônicas assim nos jornais impressos, numa época em que as pessoas tinham tempo para ler.
O Encontro Marcado é um livro-monumento. Não só pelo tamanho do seu valor. Virou estátua, está em frente à biblioteca pública, junto à Praça da Liberdade. Lá estão Sabino, Helio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos. Há um pau-ferro frondoso, projetos do Niemeyer de um lado e do outro e um banco para sentar e ler.
- Tem um Roda Viva impagável, de 1989. Aqui: https://youtu.be/-0YwkdS2igE?si=3LSW0JvjL-1SVJk3 ↩︎